"Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna." 2 Tm 2.10

sábado, 30 de abril de 2011

Precisamos de Tua Presença Jesus!

“Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles”. (Evangelho de Lucas 24.29)


Os discípulos de Emaús clamaram: “Fica conosco, Senhor… pois já é tarde e a noite se aproxima”. A “noite” pode ser perigosa! Metaforicamente representa os mistérios que estão fora da nossa capacidade visual, bem como de nosso controle. A noite aponta para o fato de que estamos vulneráveis! Representa nossos medos, solidão e desventuras.


Como suportar a noite? E como podemos encontrar poder para enfrentá-la?


Note que os discípulos se levantam e retornam para Jerusalém! (Lucas 24.33). Eles enfrentaram a noite! Eles perderam o temor de enfrentá-la!


O nosso poder como cristãos não recai na manjedoura de Belém, nem nas relíquias da cruz do Gólgota. Nossa fé e esperança recaem no Cristo Eterno que triunfou sobre a morte!


Como aqueles dois discípulos a caminho de Emaús, muitos de nós, contudo, nos sentimos decepcionados com a religião de nosso tempo; com o fato de tantos líderes religiosos sufocarem a mensagem de Cristo e esconderem-na atrás de mensagens institucionais; com o fato de os lideres religiosos serem às vezes tão zelosos da religião, tão conhecedores da lei, mas tão faltos na prática da justiça e tão ignorantes acerca do amor! (Lucas 24.20-21)


Assim como aqueles discípulos, muitos de nós também não conseguimos perceber a presença de Deus em meio aos pequenos sinais do dia-a-dia. Durante aquela caminhada embalada pela melodia da tristeza, Cristo estava presente, mas não foi reconhecido (Lucas 24.16).


Então, somos surpreendidos pela auto-revelação de Deus! Ele vem ao nosso encontro nos caminhos da vida. Surpreende-nos com sua presença de poder e graça! Altera o sentido da nossa existência! Dá-nos um propósito definido para a vida! Devolve-nos a esperança! Muda nosso rumo! Este é o poder da ressurreição! (Lucas 24.30-32)


Sem a presença do Cristo Ressurreto, o que seria de nós? O que seria de tudo o que fazemos no culto? Qual o sentido das nossas orações? Do louvor? Da adoração? Enfim, qual o sentido da vida, se não tivermos a certeza gloriosa de que não estamos sozinhos? De que Jesus, o Ressurreto, caminha conosco e fica conosco?


Sob o poder do Cristo Ressurreto e na certeza da Sua presença poderosa, enfrentamos “as noites da vida” sem temor ou desespero!


A vida daqueles que tiveram um encontro pessoal com o Cristo Ressurreto jamais será a mesma!




Autor: Rev. Ézio Martins de Lima

segunda-feira, 25 de abril de 2011

VOCÊ É OBEDIENTE AO PASTOR DA SUA IGREJA?


Obedecer - Do latim "oboediscere" - 1. Sujeitar-se a vontade de; 2. Estar sob a autoridade de; estar sujeito; prestar vassalagem; 3. Não resistir, ceder; 4. Estar ou ficar sujeito a uma força ou influência. (Dicionário Aurélio). O cristão que quer ter vitória em sua vida, deve ter um comportamento de obediência em relação ao seu pastor. A obediência as autoridades eclesiásticas é tão significativo quanto orar e jejuar muito. O cristão que desobedece ao pastor, com atos de rebeldia, e não reflete nas regras das autoridades, é um cristão derrotado!


"Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que häo de dar conta delas; para que o façam com alegria e näo gemendo, porque isso näo vos seria útil". (Hebreus 13:17)

O versículo acima nos mostra que a obediência ao pastor tem que ser algo imprescindível na vida do cristão. E por várias razões se tem esse respeito ao líder da igreja: 1. Por ser uma pessoa escolhida por Deus para agir como cabeça, ou seja, para se ter a organização nos departamentos; 2. Pela maturidade do pastor, pois a sua experiência, muitas vezes, excede em muito a de um membro, por isso os conselhos do pastor são baseados no que ele já viu e/ou viveu; 3. Como visto no texto aos Hebreus, eles zelam pelas nossas almas, e irão dar conta de nós. Essa obediência também não deve ser de maneira hipócrita. Não de obedece à frente da autoridade, e depois, às ocultas, viver em murmuração.


"Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, näo servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coraçäo, temendo a Deus". (Colossenses 3:22)

Note neste versículo que a odediência deve ser "temendo ao Senhor", e não temendo ao homem. Não se obedece ao pastor com medo do que o pastor pode fazer, mas se obedece ao pastor temendo a Deus. Deus a tudo vê e nada fica oculto aos seus olhos.


"Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, é soberbo, e nada sabe?. (1 Timóteo 6:3)

Mas toda essa obediência ao pastor, que é bíblica, não pode ser cega! Mas como assim cega? Veja bem, Deus jamais irá confundir a sua vida em nada. "Porque Deus não é Deus de confusão". (1 Coríntios 14:33). Nenhuma ordem de nenhum líder pode ultrapassar a Bíblia Sagrada.

"Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema?. (Gálatas 1:8)

O apóstolo Paulo adverte que ainda que ELE MESMO ou até mesmo um anjo do céu pregar outro evangelho, que seja anátema - expulso do vosso meio. Ou seja, Paulo não atribui nem a ele uma obediência cega, sem base no Evangelho de Cristo. Por isso, é responsabiblidade do cristão obediente, ler e estudar as Escrituras com afinco, afinal, ele vai estar obedecendo ao Senhor Jesus, que ordenou em João 5:39: "Examinai as Escrituras". Bom lembrar dos crentes bereanos de Atos 17:11, em que tudo que Paulo e Silas pregavam, eles conferiam com as Escrituras, e assim aceitavam. E a bíblia diz que eles foram mais nobres que os de Tessalônica, porque receberam a palavra.

"Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalónica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim". (At 17:11)

O cristão deve analisar a sua obediência à luz das Escrituras, pois toda doutrina deve ser segundo o Evangelho de Cristo, como o apóstolo Paulo ensinou:

"Os mentirosos, os perjuros, e para tudo que for contrário à sã doutrina, SEGUNDO O EVANGELHO da glória do Deus bendito, que me foi confiado". (1 Timóteo 1:10, 11)

A obediência cega é fruto de manipulações, sem livre-arbítrio, característico na maioria das seitas diabólicas. O líder é visto como um semi-deus, e o que ele falar é "Deus falando", independente de estar ou não de acordo com as Escrituras Sagradas. Identificamos essas manipulações, quando os líderes não dão respostas satisfatórias, e dizem que é pecado o membro questionar a liderança, pois o seu dever é "somente obedecer e acabou!" Os versículos bíblicos são isolados, não são claros (podendo ter significado para outros assuntos). Ou seja, nunca há uma base bíblica concreta. Sempre haverá questionamentos e dúvidas por parte dos membros. Jesus, sendo o Filho de Deus, nunca se negou a responder a quem o questionasse:

"E, respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre, disseste bem. E näo ousavam perguntar-lhe mais coisa alguma". (Lucas 20:39,40).

Em todos os Evangelhos voce pode perceber que Jesus citava os livros de Moisés, de Isaías, respondendo aos que o interrogavam, e ainda os deixavam sem resposta, e sem poder perguntar mais nada. Jesus nos deixou o exemplo, para sermos seus seguidores, seus imitadores, em ter conhecimento da Palavra. Quando o cristão não busca conhecimento da Palavra de Deus, e apenas obedece ao pastor, ele deixa de ser servo de Deus, e se torna servo dos homens.

?Fostes comprados por bom preço. Não vos façais escravos dos homens?. (1 Coríntios 7:23)

Perguntar, querer um esclarecimento sobre determinado assunto, não é pecado, jamais o pode ser. Se a dúvida for sincera, se a pergunta é com o real interesse de se obter respostas claras, isso não pode ser visto como carnalidade ou desobediência. Do contrário Paulo e Silas reprovariam os bereanos de Atos 17:11. Ou também Jesus nào responderia aos que o interrogavam em sua época.

"Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidäo de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coraçäo, näo vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa näo é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica". (Tiago 3:13-15)

O líder que é um homem de Deus não cria confusões com invejas, ciúmes de púlpito, e outras intrigas que não caracterizam a sabedoria que do alto vem. Por esse e por outros motivos, o cristão deve buscar o conhecimento da verdade da Palavra de Deus, pois o libertará dos medos, dos achismos, dos ísmos do meio evangélico, que só causam dúvidas, ao invés de fé e crescimento em Deus.

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". (João 8:32)

Ele não diz: "E recebereis oração forte e a oração forte vos libertará..." Toda oração é boa. Creio na oração de libertação, que expulsa os demônios, como Jesus mesmo expulsou demônios dos possessos. Mas o que Ele ensinou a nós? "CONHECEREIS a verdade". O conhecimento da verdade liberta o cristãos das heresias criadas por homens sem temor a Deus.

São muitos os pregadores espalhados pelo Brasil a fora, que adentram igrejas, casas, invadindo intimidades, "sentindo" de chegar na casa dos outros na hora do almoço (e só na hora do almoço, nunca depois), corrigindo os outros com doutrinas de homens (roupas), tirando todo o lazer, a liberdade, o qual Deus nos deu como fruto do suor do nosso rosto. Cheios de malícia e maldade, e sem conhecimento nenhum da palavra de Deus, entregando revelações confusas, causando transtornos a famílias inteiras. E quando algum cristão começa a interrogá-los na Palavra, respondem que não gostam de "teologia". É muita hipocrisia!

É preciso ter muito cuidado nos dias de hoje, pois muitos são os que se acham missionários, evangelistas, pregadores, doutrinadores, exortadores, sem nenhum ensino bíblico, sem amor, sem vida, sem paz.

"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, säo lobos devoradores". (Mateus 7:15)


Autor: Denis de Oliveira
Fonte: http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=309

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um estudo sobre a origem da Páscoa

O nome e o significado da palavra "páscoa"

O nome que a Bíblia Hebraica usa para denominar "páscoa" é pesah. Com a palavra pesah o texto bíblico quer significar duas coisas:
1. o ritual ou celebração da primeira festa do antigo calendário bíblico (Ex 12.11,27,43,48);
2. a vítima do sacrifício, isto é, o cordeiro pascal (Ex 12.21; Dt 16.2,5-6).
Na Bíblia, o nome de uma pessoa ou instituição é sempre um dado importante para se conhecer o que eles são e o que representam. O nome não é um simples rótulo, uma etiqueta ou uma fachada publicitária, mas ele exprime a realidade do ser que o carrega e representa. Assim é o nome "páscoa".
O substantivo pesah/páscoa vem da raiz verbal psh que aparece três vezes nos relatos pascais (Ex 12.13,23,27; ler também Is 31.5; 1 Rs 18.21,26). Assim, o verbo pasah passar por cima, saltar por cima é o significado que prevalece nos usos deste termo pelos escritores e escritoras da Bíblia. O Prof. Luiz Roberto Alves assim definiu o termo pesah/ páscoa:
"O verbo que dá base ao substantivo pesah tem o sentido de salto, movimento,
caminhada, travessia. Todas as palavras têm história e essa história corresponde às
ações dos homens e mulheres. Os hebreus juntaram à idéia do pesah vários
acontecimentos ligados à idéia de travessia" (Expositor Cristão, 2a. Quinzena, 1984,p. 12).


A origem da Páscoa

Falar de origem da Páscoa é entrar no campo das suposições, pois não há dados suficientes que ajudam a esclarecer sobre essa celebração no período pré-mosaico. Todavia, os textos do Antigo Testamento fornecem indicações que a Páscoa, em suas origens, foi um ritual ou cerimônia que incluía as seguintes características:
a) O ritual era realizado no seio da família ou clã; não tinha altares, santuários e sacerdotes ou qualquer influência do culto oficial;
b) Era celebrado por pastores nômades ou seminômades;
c) O ato central desse ritual era o sacrifício de um jovem animal do rebanho de cabras ovelhas;
d) A cerimônia ocorria no fim da primavera e início do verão (mês de abril), numa noite de lua cheia;
e) O ritual da celebração pascal incluía as seguintes etapas:
- Retirava-se o sangue do animal,
- Ungia a entrada das cabanas com o sangue do animal,
- Assava a carne do animal,
- Com a carne assada, fazia um grande banquete para a família reunida,
- O banquete oferecido incluía a presença de pães ázimos ou asmos, ervas amargas nascidas no deserto,
- A celebração da Páscoa exigia dos participantes desse ritual as seguintes
posturas:

Ter uma atitude de marcha e pressa,
Usar vestimenta para viagem,
Ter as vestes amarradas na cintura,
Atar as sandálias nos pés,
Ter o cajado de pastor na mão.
f) Parece que o objetivo dessa cerimônia era pedir proteção divina, para a família e o seu rebanho de animais menores contra o exterminador (no hebraico, maxehit - Ex 12.13, 23) ou saqueador, bando de destruição (1 Sm 13.17; 14.15; Pr 18.9). O exterminador maxehit pode ser qualquer tipo de agressor, desgraça, enfermidade, peste ou acidente que poderia ocorrer com qualquer membro da família ou os seus animais.
g) Provavelmente, esse ritual foi celebrado por Abraão, Isaac e Jacó, pois eles eram pastores. A cada ano, na primavera, quando o vento quente do deserto, anunciando o verão, atingia e queimava as parcas pastagens das ovelhas, os pastores, suas famílias, bem como os seus rebanhos eram obrigados a buscar outros lugares para dar de comer as suas ovelhas.
A Páscoa celebrada pelos israelitas: da sedentarização até o início da Monarquia (1200 - 1040 a.C.).
Evidentemente que o sistema de vida dos israelitas mudou substancialmente após a chegada a Canaã.
a) O povo israelita deixou de ser semi-nômade e deu início ao processo de sedentarização. Paulatinamente, o povo foi se tornando agricultor, embora parte dele continuou na vida pastoril, especialmente, as clãs que permaneceram vivendo nas localidades periféricas do território da terra de Israel.
b) Ao se fixar nas terras agrícolas, os israelitas aproximaram-se dos cananeus. Foi aí que o povo do êxodo conheceu algumas festas relacionadas ao mundo agrícola. Entre essas instituições estão as festas agrícolas, como Ázimos, Semanas e Colheitas.
c)Foi nesse período de difícil adaptação que se dá a integração da Festa dos Pães Ázimos e a Páscoa. As duas celebrações ocorriam no mesmo período.
d) No período entre a chegada do povo israelita à Canaã e a sedentarização ocorreu uma profunda transformação no significado da Páscoa.
• O conteúdo e a forma da cerimônia da primitiva da Páscoa já não respondem as condições de vida atuais do povo israelita. Exigiam-se modificações.
• Apesar da Páscoa manter boa parte de seu antigo ritual, o povo israelita procurou encontrar outros motivos para a celebração.
• A cerimônia continuou a ser celebrada em família, mas a Páscoa deixou de ser um ritual ligado à troca de favores divinos, para tornar-se uma memória da ação de Deus, salvando o povo hebreu da escravidão.
e) O mais primitivo ritual da Páscoa encontra-se em Êxodo 12.21-28.
Estudo Bíblico: Ex 12.21-28
I. Instrução de Javé para Moisés e Aarão - v. 21-27a.
1. Introdução: Moisés convocou todos os anciãos de Israel e disse-lhes:
2. A instrução para a missão de Moisés e Aarão - v. 21b-27a.
2.1. Instruções para a Páscoa - v. 21b-22


Tirai,
Tomai um animal do rebanho segundo as vossas famílias e
Imolai a Páscoa.
Tomai alguns ramos de hissopo,
Molhai-o no sangue que estiver na bacia, e
Marcai a travessa da porta e
os seus marcos com o sangue que estiver na bacia;
Nenhum de vós saia da porta de casa até pela manhã


2 - Razão para celebrar a Páscoa - v. 23
e Javé passará para ferir os egípcios;
e quando Ele vir o sangue sobre a travessa,
e sobre os dois marcos,
Ele passará adiante dessa porta,
e Ele não permitirá que o exterminador entre em vossas casas para vos ferir.

3 - Ordem para a celebração da Páscoa - v. 24-25
Observareis esta determinação como um decreto para vós
e para vossos filhos, para sempre.
Quando tiverdes entrado na terra que Javé vós dará, como disse,
Observareis este rito.


4 - Explicação sobre a festa e o significado no nome ´páscoa` - v. 26-27a.
Quando vossos filhos vos perguntarem: "Que rito é este?"
Respondereis:
"É o sacrifício da Páscoa para Javé
que passou adiante das casas dos filho
Então o povo se ajoelhou
e se prostrou.
Foram-se os filhos de Israel
e fizeram isso, como Javé ordenara a Moisés e a Aarão,
assim fizeram.


Comentando:

A forma literária com a qual este ritual foi elaborado é perfeita.
Primeiro, o texto mostra Moisés convocando os anciãos do povo, a mando de Javé (conforme Ex 12.1), para preparar a festa da Páscoa (v. 21b-22).
Segundo, Moisés instrui, com detalhes, os anciãos para preparar os elementos que comporiam o ritual (v.21b-22).
Terceiro, Moisés fornece as razões para aquele ritual, bem como o uso do sangue de uma ovelha e o hissopo (planta aromática - Nm 19.6; Sl 51.9): o motivo da festa é afugentar o medo do vento exterminador que ameaça as casas do povo hebreu (v. 23).
Quarto, a ordem para celebrar a Páscoa tem uma dimensão profética. A Páscoa vai além da contagem do tempo humano, cronológico. A celebração não encerra um simples agradecimento, pela libertação da escravidão e a concessão da terra para morar, criar a família e plantar para obter o alimento. A celebração possui a dimensão profética da contínua presença salvadora de Deus junto ao seu povo. Jesus captou essa amplitude da celebração quando disse: "Fazei isso em memória de mim... até que Ele venha" (1 Co 11.24b e 26b).
Quinto: os versos 26-27a providenciam a explicação do nome "Páscoa" para as gerações e gerações de salvos da escravidão. Com isso, o texto bíblico quer mostrar que essa celebração da Páscoa possui uma novidade. Ela não é mais dominada pelo medo do Faraó ou dos outros possíveis "exterminadores" que possam haver nos caminhos do povo de Deus. A celebração da Páscoa, do povo liberto e instalado na terra de Canaã, passa a ser marcada pela alegria e certeza da presença de Deus entre o povo liberto e salvo.
Sexto: os versos 27b-28 assinalam o cumprimento da ordem divina para celebrar a Páscoa.

Observações
(1) A prescrição sobre a celebração da Páscoa (Ex 12.21-28) é legitimada pelo editor do livro de Êxodo. Assim, o cabeçalho deste capítulo (Ex 12.1) afirma que a prescrição da Páscoa (12.21-28) é autorizada por Javé. Eis a sua lógica:
1. Javé comunica a Moisés e Aarão;
2. Moisés e Aarão ouvem as ordens de Javé;
3. Moisés e Aarão obedecem e comunicam aos anciãos de Israel.
(2) A celebração continuava a ser celebrada em família. A Bíblia ensina que a família constitui o fundamento para o projeto de sociedade que Deus propõe para a humanidade.
(3) Foram mantidos vários elementos na celebração: ovelhas e ramos de hissopo (erva aromática). Evidentemente que houve algumas modificações, em razão da nova situação de vida do povo, agora, vivendo em Canaã.
(4) Todavia, a antiga Páscoa foi "relida" e "re-significada". O antigo culto dos pastores semi-nômades possuía a função de controlar as forças da natureza. Por exemplo, os povos anteriores aos hebreus acreditavam que oferecendo em sacrifício o filho primogênito, poderia controlar a bênção e a ira divina. Como na cerimônia da primitiva páscoa, os pastores acreditavam que poderiam amenizar a ira divina do "vento destruidor".
(5) Na verdade, o povo bíblico tomou antigos costumes dos povos vizinhos e os converteu em instrumentos de preservação e ensino da fé. No caso da Páscoa, o povo bíblico tomou uma cerimônia pagã, que girava em torno de uma magia, e a transformou em um sinal da presença salvadora de Javé. Em outras palavras, a nova celebração da Páscoa mostra que a fé não é um dado doutrinário ou mágico, mas um gesto história de Javé.

IV - Da sedentarização do povo de Israel ao período monárquico.
Após os acontecimentos que envolveram a saída do Egito - a difícil caminhada pelos desertos, os muitos "sinais e maravilhas" realizados por Javé e o cumprimento da promessa de "uma terra que mana leite e mel" - o povo bíblico juntou à idéia da Páscoa aos acontecimentos acima descritos. A Páscoa dos nômades deixou de ser uma cerimônia mágica que procurava afugentar o medo do "exterminador", que se supunha estava próximo, para se tornar uma afirmação concreta da plena liberdade que Javé dá.
• Foi nesse momento que o povo bíblico tomou consciência que a sua fé em Javé não era uma formalidade a mais entre os povos do Antigo Oriente. Javé não é definido pelo seu ser, mas pela sua atuação na história: Ele ouviu o grito angustiado dos/as escravos/as do Egito e providenciou os meios para a libertação deles (Ex 3-4);
• A celebração da Páscoa, agora reformulada e "re-significada", passa afirmar que a fé bíblica é histórica, e que tem seu fundamento nos acontecimentos salvíficos relatados nos livros de Êxodo, Números e Deuteronômio, especialmente;
O outro ritual da Páscoa, relatado em Êxodo 12.1-14, provavelmente, representa a segunda forma litúrgica mais primitiva, entre todas incluídas no Antigo Testamento. Ao tornar-se sedentário, o povo de Israel mudou substancialmente seu sistema de vida:
• de escravos tornaram-se livres;
• de pastores tornaram-se agricultores;
• de semi-nômades tornaram-se sedentários.

• A história da salvação do Egito não é ensinada, nas casas e nos cultos, como uma doutrina, mas como um fato histórico, isto é, um milagre de Deus ocorrido na história de seus pais;
• A fé em Javé, através da celebração da Páscoa, tornou-se uma força transformadora;

• do medo à coragem;
• da magia a atos concretos da atuação de Javé;
• da escravidão à liberdade.

• O nome da festa, pesah saltar - o saltar do vento destruidor, demoníaco - passa significar, em conexão com a história de libertação dos hebreus, passar por cima de, saltar para a liberdade;
• O sacrifício de um cordeiro deixa de ser um simples sacrifício de sangue para se tornar uma memória dos atos salvíficos de Javé. Por isso, a celebração da Páscoa passa a ser prescrita como "um Páscoa para Javé".


V - A Páscoa no período monárquico.
• Há silêncio sobre a celebração da Páscoa, exceto o profeta do Reino do Norte Oséias que critica o povo pela ausência da celebração Os 12 ).

VI - Da celebração caseira para a cerimônia no Templo de Jerusalém.
O rei Josias (642-609 antes de Cristo) empreendeu uma ampla reforma no Reino de Judá (O Reino de Israel já tinha sido destruído em 722 a.C.).
• Por determinação do rei Josias, a Páscoa passou a ser celebrada, oficialmente, no Templo, em Jerusalém (Dt 16.1-8);
• A reforma equipara a Páscoa a uma festa de peregrinação (ver a coleção "Salmos das Subidas" (Sl 120-134);
• O gado maior (boi ) passa a ser admitido como vítima para o sacrifício;
• Surgiu a permissão para cozer a vítima, em lugar de assá-la;
• A memória do êxodo do Egito continuou sendo o motivo principal da celebração.

VII - A Páscoa no exílio babilônico (598-537 anos antes de Cristo)
Durante o exílio na Babilônia, o povo exilado desenvolveu a esperança de que Javé poderia libertar, de novo, Israel. Este tema é muito abordado pelo profeta anônimo do exílio, cujas palavras foram editadas no livro de Isaías, capítulos 40 a 55.
• Desaparece a atividade cultual no Templo (destruído em 587 a.C.). Surge a Sinagoga e cresce a produção literária;
• Volta o sacrifício da rês menor (ovelhas e cabras);
• A celebração volta para a família e o ritual de sangue volta a ter o sentido de símbolo da defesa contra o "exterminador";
• Percebe-se pequenas variações na celebração:
1. não jogar fora algumas partes do animal sacrificado;
2. não quebrar os ossos do animal sacrificado;
3. permissão para celebrar a Páscoa no 2o. mês para quem não pôde sacrificar no 1o. mês (Nm 9.1-14);
4. passou a ser permitida a participação de estrangeiros.

• Começou aparecer uma distinção entre Páscoa e Ázimos, como celebrações distintas:
Festa dos Ázimos: nos dias 1 a 7 do primeiro mês do ano;
Festa da Páscoa: no dia 14 do mesmo mês.

VIII - Páscoa no período Grego
• Os livros de 1 e 2 Crônicas e Esdras indicam que a Páscoa preservou alguma cerimônia para o Templo, mas a refeição pascal foi mantida no templo;
• O gado maior foi readmitido como parte da cerimônia;
• A carne deve ser assada e não cozida;
• O leigo executa o ritual de sangue (2 Cr 30.21; 35.11);
• Páscoa e Ázimos voltam a integrarem-se;
• O levita passa a ter um papel relevante na celebração;
• A música passa a ser parte da celebração;
• O copo de vinho passa a ser parte da cerimônia;
• A Páscoa retornou ao Templo como parte do culto oficial, mas preservou-se a refeição para o ambiente familiar.


Resumindo

1. A Páscoa pré-mosaica é marcada pelo medo do exterminador maxehit. O ritual tinha algo de "magia" para afugentar os males. É bom lembrar que, nessa época, o povo sacrificava os primogênitos recém-nascidos para ganhar favores divinos (conforme Gn 22);
2. O povo bíblico tomou todos os costumes e práticas pagãs e os passou pelo crivo da fé javista. Tanto no sacrifício dos primogênitos (Gn 22), como no ritual da Páscoa, o povo bíblico converteu tais cerimônias às práticas e confissões de fé javistas. Em ambas situações, o medo prendia as pessoas e forçava-as a praticarem cerimônias inúteis e criminosas. Foi Javé quem abriu os olhos do povo bíblico. Este se tornou um missionário entre as nações para anunciar as boas novas: "Não temais! Eis que vos trago uma boa nova que será para todo o povo" (Lc 2.10). A Páscoa anuncia o fim do medo e, conseqüentemente, a confirmação da confiança em Deus.
3. A celebração da Páscoa não é uma cerimônia de nostalgia do passado; não é uma festa da saudade onde heróis e heroínas são lembrados/as por seus atos de valentia; também não é um ritual que procura romantizar o passado, lembrando e homenageando certas figuras da história.
4. Na Bíblia, dois verbos sobressaem-se: "lembrar" e "esquecer". Quando a Bíblia apela para que o povo lembre dos grandes atos de Javé (conforme Ex 13.3), ela está procurando construir o futuro da nação. A memória dos grandes atos salvíficos de Deus mobiliza a fé da sociedade e fortalece o povo para esperar as boas novas do Reino de Deus. Esquecer o que Deus fez e faz significa a tragédia da humanidade.
5. Celebrar a Páscoa é resgatar os atos salvíficos de Deus no passado, acreditando que Ele possa fazer o mesmo, entre nós, no dia de hoje. A memória do passado salvífico - seja da libertação no Egito, seja da vida e obra de Jesus Cristo - restaura as forças dos/as crentes celebrantes para o testemunho.
6. Na verdade, a memória carrega o sentido de redenção, seja dos atos salvíficos de Deus, através da história, bem como a redenção das causas justas do passado. Assim, a memória resgata tanto a vida e obra de Jesus como a luta dos pobres pela dignidade de viver. Pela memória, redimimos o desejo e a luta deles. Assim, se esquecermos os desafios do povo de Deus no Antigo Testamento, os ensinos de Jesus Cristo ou os anseios justos do povo fiel, pomos a perder o sentido desses projetos. A intenção da celebração da Páscoa afirmar que cada geração de celebrante tem o dever de pôr em prática os verdadeiros e justos projetos das gerações do passado.

Autor: Tércio Machado Siqueira, professor de Antigo Testamento da FaTeo
Fonte: http://www.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/um-estudo-sobre-a-origem-da-pascoa

terça-feira, 12 de abril de 2011

FUKUSHIMA, CHERNOBYL, TERREMOTOS E TSUNAMIS

Quando acontecem catástrofes – como as que vimos no Japão – o que se tem de fazer? Escolher minimizá-las e não sucumbir ao medo, ao terror diante das forças naturais. Há escolhas. Nenhuma delas excluirá a esperança da reconstrução, tendo em vista os seres que devem sobreviver, a despeito de todo obstáculo que se interponha entre a ganância do capital e a arrogância da técnica, desmoralizadas nesses eventos. Elas nada podem fazer. Nessas circunstâncias, somos lembrados das forças que atuam no Universo, não alcançáveis pela tecnologia ou pelo capital.


De fato, há energias que estão acima de nossas capacidades de controle. Todavia, podemos ponderar sobre a Terra e reconstruir nossas relações com o planeta, de modo a respeitá-lo. Podemos reconstruir os sonhos que dignificam e redefinem a casa da humanidade. Devemos observar nossa interação com o mundo natural e redirecionar nossos esforços.


Estrelas explodem, galáxias devoram umas às outras. Há 15 bilhões de anos, dizem os geólogos, a Terra se ajusta num constante desorganizar para organizar, regida por leis naturais. As mesmas que nos permitem observar as mudanças das estações. Os canais de televisão mostram cenas e memórias de outras catástrofes naturais igualmente devastadoras. O fio dessas calamidades naturais é longo. No Oceano Índico, em 2005, usou-se pela primeira vez a palavra “tsunami”.


O impacto de um tsunami faz lembrar que a mãe Terra não suporta tudo o que se impõe a ela (J. Perkins). Imaginem se ela resistirá ao que temos imposto ao planeta, depredando-o e aviltando-o com a ganância que nos é peculiar! Porém, buscamos esclarecimentos racionais para o imponderável. Queremos entender os fatos perguntando sobre a cumplicidade de Deus. Uma inversão radical da questão. Por que Deus criou um mundo finito, vulnerável, que sofre? Por que o destino de cada astro ou estrela é desaparecer? Por que uma estrela morta há milhões de anos luz ainda brilha no céu? Por que existem terremotos e tsunamis? Deveríamos perguntar sobre o tratamento que damos ao planeta criado, quando o submetemos a danos irreparáveis.


Insistimos em manter o mundo à espera, aguardando possíveis desastres nucleares e não assumimos nossas responsabilidades quanto ao futuro da Terra e a devastação ecológica de todos os dias. Podemos fazer um balanço do que temos feito e planejar ações para o futuro que nos espera, além das denúncias em relação ao que vem transformando o planeta num imenso depósito de lixo (Fukushima opera com lixo nuclear reciclado!). Não há nada que escape à voracidade do capital.


O assunto pareceria anacrônico, se refletisse uma questão vencida anos anteriores à explosão religiosa carismática. É perda de tempo repetir os chavões da teologia intimista, salvacionista, conservadora ou fundamentalista. A compreensão negativa sobre Deus não pode apagar tudo, como juízo indesejável. Na Bíblia, há uma legião de fantasmas e monstruosidades atribuídas a Deus: o mandato (herem) justificado e expresso para o genocídio de povos inteiros, sem levar em conta inocentes, anciãos, enfermos, inválidos, mulheres e crianças; castigos coletivos até a “terceira e quarta gerações”, por autores que apresentam-se sob o “aval de Deus”. É assombroso que o rosto misericordioso do Deus Salvador seja escondido no esforço humano da vingança contra o semelhante. Envergonhamos Deus.


O horror de Hiroshima e Chernobyl são fantasmas da ameaça nuclear; Auschwitz, Ruanda, Timor Leste, Bálcans, da“limpeza” étnica, das sombras da crueldade humana. Tratam das profundas experiências da dor, encravada na consciência moderna. São milhões de mortos. Mas, onde está a Palavra de Deus para a salvação, ali está o Espírito. Deus cria por meio da Palavra (davar). Tudo é precedido da energia vibrante que traz a salvação. O mundo criado pelo fôlego de Deus estimula respeito e comunhão com os seres da criação. Deus respira por meio de toda criação (Moltmann), seres, raças, povos.


A crise ecológica não deve ser separada da concepção do universo concreto: todos somos destinados ao mundo recriado (Ap 21). A Igreja e os crentes, como representantes da fé bíblica, não podem se esquecer que, no momento, “a criação geme (…) em dores do parto” (Rm 8.22, NVI) para uma nova realidade.


O mundo do lucro, da exploração e da ganância, introduziu-nos num círculo vicioso, atraindo ou criando dívidas sociais e ecológicas ao mesmo tempo (2 bilhões de pessoas experimentam fome e endemias). Os limites das condições de equilíbrio chegam a uma situação drástica. A catástrofe maior da miséria, que atinge o fraco por deferência, também denuncia o descaso no qual vivemos. Faz parte da indiferença de toda a humanidade quanto ao seu futuro. Reflitamos.



Autor: Derval Dasilio

Fonte: http://www.ultimato.com.br/ultimas/autor/derval-dasilio

segunda-feira, 4 de abril de 2011

VIVENDO PELA FÉ!

Poucas expressões na Escritura tiveram impacto tão duradouro quanto a declaração do Senhor a Habacuque de que o justo, pela sua fé, viverá (Hc 2,4). Se você é protestante no di a de hoje, este versículo tem um papel importante em sua herança espiritual: Martinho Lutero o adotou como seu lema durante a reforma protestante, no começo do século 16.

Mas, provavelmente Habacuque não compreendia toda a dimensão da verdade explosiva contida na declaração de Deus. Ela aparece como parte de um prelúdio a um cântico de provocação que o profeta foi instruído a cantar contra a Babilônia (Hc 2.1-6). O senhor estava explicando por que os babilônicos seriam julgados. Basicamente, eles eram um povo orgulhoso, no sentido de que não temiam a Deus. Por sua vez, a pessoa justa – aquela que merecia a aprovação e a bênção de Deus – cairia nas graças de Deus, por causa da sua fé no Senhor.

Na verdade, a palavra hebraica traduzida por fé, emuná, significa firmeza ou fidelidade. O israelita que segui o pacto com fidelidade, cumprindo a Lei de Deus, era considerado uma pessoa justa ou santa (Sl 15). O que estava em questão não era a etnia judaica da pessoa, e sim a obediência a Deus. O problema dos bailônicos, portanto, não era um problema de etnia, eles serem gentios, e sim o fato de viverem uma vida cheia de perversidade e idolatria. Viviam arrogantemente, como se seus interesses pessoais fosse tudo o que importasse. Por isso, o Senhor os humilharia de acordo com os cinco ais proclamados por Habacuque (Hc 2.6-20).

No Novo Testamento, Paulo destacou a idéia de a pessoa viver somente pela fé (Rm 1.17; Gl 3.10-12). Com a vinda de Cristo, ele nos deu uma compreensão mais aprofundada desta frase. Viver pela fé não significa obedecer à Lei apenas para os outros verem, como muitos líderes judeus daquela época presumiam, e sim comprometer-se de todo o coração com o Senhor, e com o reconhecimento de que apenas Cristo é capaz de tornar alguém justo perante Deus. Isto não elimina a necessidade de viver com fidelidade, segundo Deus, e sim estabelece uma boa base para fazê-lo.


Fonte: O novo comentário bíblico AT, com recursos adicionais. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010, p. 1.376.